segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Escreve-me

Escreve-me ...

Escreve-me! Ainda que seja só

Uma palavra, uma palavra apenas,

Suave como o teu nome e casta

Como um perfume casto d'açucenas!

Escreve-me!Há tanto,há tanto tempo

Que te não vejo, amor!Meu coração

Morreu já,e no mundo aos pobres mortos

Ninguém nega uma frase d'oração!

Folhas leves e tenras de boninas,

Um poema d'amor e felicidade!





Não queres mandar-me esta palavra apenas?

Olha, manda então...brandas...serenas...

Cinco pétalas roxas de saudade...



Florbela Espanca

Saudades

Saudades! Sim... Talvez... e porque não?... Se o nosso sonho foi tão alto e forte. Que bem pensara vê-lo até à morte. Deslumbrar-me de luz o coração! Esquecer! Para quê?... Ah! como é vão! Que tudo isso, Amor, nos não importe. Se ele deixou beleza que conforte. Deve-nos ser sagrado como o pão! Quantas vezes, Amor, já te esqueci, Para mais doidamente me lembrar, Mais doidamente me lembrar de ti! E quem dera que fosse sempre assim: Quanto menos quisesse recordar. Mais a saudade andasse presa a mim!




Florbela Espanca